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Toda mulher carrega em si a força de recomeçar

Sobre

​Nesta página, você conhecerá histórias reais de mulheres que transformaram dor em coragem e silêncio em voz. Os nomes e imagens foram alterados por segurança e privacidade, mas cada relato é uma semente de esperança, um lembrete de que a liberdade e a dignidade podem florescer novamente. Que essas vitórias inspirem outras mulheres a acreditarem que é possível recomeçar e viver sem medo.

Maria, 1980

Maria nasceu no Vale do Jequitinhonha, uma região marcada por simplicidade e muitos desafios. Desde pequena, aprendeu a lidar com as dificuldades da vida com coragem e fé. Em busca de novas oportunidades, mudou-se para Ibirité após se casar, sonhando em construir uma vida melhor.

Mas o sonho logo se transformou em sofrimento. Maria passou anos vivendo sob a sombra da violência doméstica, enfrentando agressões físicas e emocionais que tentaram apagar sua força e sua esperança. Depois de muitas tentativas de resistir, ela tomou a decisão mais difícil da vida: deixar o lar e, com o coração apertado, afastar-se temporariamente dos filhos para preservar a própria vida.

Sozinha, precisou recomeçar do zero. Trabalhou duro, encontrou acolhimento na Igreja Católica e descobriu no serviço ao próximo uma nova razão para seguir em frente. Passou a ajudar pessoas em situação de rua, levando não só alimento, mas também palavra, escuta e fé.

A vida, porém, ainda a testaria. Maria ficou viúva, enfrentou um câncer e sobreviveu a cinco crises graves de Covid-19 durante a pandemia. Cada desafio tornou-se um degrau em sua jornada de superação.

A vitória contra o câncer transformou sua dor em propósito. Hoje, Maria é voluntária e motivadora na ONG Elos de Amor, inspirando outras mulheres a acreditarem que sempre é possível recomeçar.

Sua história é um testemunho vivo de fé, coragem e transformação, uma prova de que, mesmo após a violência e a perda, a vida pode florescer novamente.

Atena, 1990

Desde pequena, Atena sempre foi uma menina cheia de vida, curiosa, esperta e determinada. Ainda assim, ouvia com frequência que “tinha energia demais” ou que “parecia um menino”, enquanto sua família lutava diariamente contra as dificuldades financeiras. Faltava quase tudo em casa, inclusive o essencial para se alimentar. Diante dessa realidade dura, sua mãe decidiu se mudar para outro estado em busca de uma vida melhor. Atena, porém, precisou ficar temporariamente com parentes.

Na casa onde cresceu, a infância lhe foi roubada cedo demais. As brincadeiras deram lugar a responsabilidades de gente grande, e os dias eram marcados por tarefas e cobranças. Além da rigidez da rotina, Atena enfrentava o peso do preconceito e do racismo, era criticada por sua cor, por seu cabelo curto, por simplesmente ser quem era.

Quando finalmente pôde se reunir à mãe, a menina precisou novamente viver com familiares para que ela pudesse trabalhar. Foi nesse período que sofreu abusos graves, cometidos por alguém em quem confiava. As marcas deixadas por esse trauma atravessaram a infância e acompanharam sua adolescência, mas não foram suficientes para apagar sua força.

Mesmo diante de tanta dor, Atena manteve viva a esperança de transformar sua história. Prometeu a si mesma que o passado não definiria o seu futuro. Aos 16 anos, engravidou e se casou. Foi no nascimento da filha que encontrou um novo sentido para viver. A menina se tornou sua maior motivação e sua fonte diária de coragem.

Com fé, determinação e o apoio de pessoas que acreditaram em seu potencial, Atena conquistou um sonho que parecia distante: formou-se em Psicologia.

Hoje, é uma das fundadoras de uma ONG dedicada à prevenção da violência doméstica, atuando com empatia e compromisso para acolher mulheres e crianças que enfrentam realidades semelhantes à que viveu.

Atena transformou sua dor em propósito, e sua história em exemplo. Ela carrega uma mensagem que guia sua vida e inspira todas as pessoas que cruzam seu caminho:
“Se você não fizer por si mesma, ninguém mais fará.”

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Helena Duarte, 2017

Helena passou a maior parte da vida sob o jugo da opressão. Seu marido, um militar de conduta severa, impunha restrições draconianas: ela era proibida de sair desacompanhada, de interagir socialmente, confinada ao papel de "esposa e dona de casa". Essa reclusão, contudo, era menos dolorosa que o abuso verbal constante. Ele a menosprezava, atacava sua aparência com termos humilhantes, como "gorda", corroendo sua autoconfiança e estabilidade emocional.

Por anos, ela viveu desvalorizada. O caminho para recuperar a própria imagem, reconhecer-se como uma mulher de valor, capaz, resiliente, livre e merecedora de dignidade foi longo e excruciante, mas culminou em um profundo despertar.

Ao iniciar sua jornada de recuperação, Helena encontrou em uma amiga, que compartilhava um passado de violência semelhante, uma aliada essencial. Unindo suas experiências dolorosas, elas canalizaram essa energia para fundar uma ONG dedicada ao amparo feminino.

Desse trabalho nasceu uma iniciativa pioneira, um projeto de atividades físicas corridas de rua, trilhas e esportes radicais como rapel voltado apenas para mulheres. O objetivo transcendia o exercício: era restaurar a autoestima, fomentar a segurança pessoal e restabelecer a confiança. A mensagem era clara: a força feminina não se define por padrões estéticos, mas pela saúde plena física, emocional e, crucialmente, mental.

Hoje, Helena é um ícone de superação e uma figura proeminente no cenário esportivo local. Sua história é a prova viva de que é possível reescrever o destino, quebrar as amarras de anos de silêncio e converter a dor pessoal em uma fonte de esperança e empoderamento para inúmeras outras mulheres.

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Clara Valença, 2017

Desde muito pequena, Clara aprendeu o que era viver em meio à dor. O lar que deveria ser abrigo era, na verdade, cenário de brigas e medo. Testemunhou discussões que se transformavam em agressões, às vezes com o uso de ferramentas como foices. A mãe, apesar de aparentar força, carregava dentro de si uma tristeza profunda — e muitas vezes, sem perceber, descontava nos filhos o peso que o coração já não suportava. Mesmo assim, Clara nunca deixou de sonhar. Enfrentou o medo, começou a trabalhar cedo e acreditou que podia escrever uma história diferente da que viveu.

Com o tempo, os pais se separaram. O pai saiu de casa levando apenas um lençol com algumas roupas. Apesar de tudo, nunca deixou de amar a esposa, e os filhos, de certa forma, sempre estiveram ao lado dele.

Na juventude, Clara conheceu um rapaz. Casaram-se quando ela tinha 29 anos, e logo depois veio ao mundo a filha tão esperada. Foram dias de alegria e esperança, até que o alcoolismo do marido transformou o lar em um lugar de dor. Vieram as agressões, o medo, a destruição dentro de casa e até a violência contra o animal de estimação da família. A casa deixou de ser refúgio e virou prisão.

Mas um dia, Clara decidiu que não viveria mais assim. Com coragem, rompeu o ciclo e escolheu recomeçar, mesmo diante do preconceito e das dificuldades. Saiu de casa com a filha, o coração apertado e a esperança nas mãos. Alugou um pequeno espaço, ampliou sua clientela como podóloga e depiladora e, pouco a pouco, foi reconstruindo sua vida com dignidade.

Há oito anos, Clara teve o primeiro contato com a ONG, oferecendo seus serviços voluntariamente. Esse encontro mudou seu olhar sobre o próprio caminho. Ela percebeu que, além de sustentar a filha, podia também acolher e inspirar outras mulheres que enfrentavam dores parecidas com as suas.

Mesmo depois da separação, Clara tentou ajudar o ex-marido. Buscou tratamentos, internações e apoio. Mas ele não conseguiu vencer os próprios demônios e, recentemente, partiu.

Hoje, Clara carrega no peito as cicatrizes de quem lutou e venceu. Cada marca conta uma história de superação. Ela é prova viva de que, por mais difícil que seja o caminho, é possível se libertar, recomeçar e se reconstruir. Sua vida inspira outras mulheres a acreditarem que ninguém precisa permanecer em um ciclo de dor. A dor pode se transformar em coragem, e a coragem, em liberdade.

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Fenix, 2019

Desde muito jovem, Fênix aprendeu o que era a dor. Ainda menina, foi ferida por um abuso vindo de quem deveria protegê-la. Cresceu tentando entender o inexplicável, lutando contra marcas que ninguém via, mas que pesavam em sua alma. O lar onde vivia era feito de gritos, de palavras duras e de uma violência constante entre os pais. Não havia espaço para a infância, nem para o riso. Viver era, desde cedo, resistir.

Na adolescência, acreditou ter encontrado o amor. Pensou que ali, em um namoro, poderia descobrir o carinho que nunca teve. Mas aos 16 anos, grávida, se viu sozinha. O companheiro se mostrava ausente, frio, e dizia que nem era preciso comprar fraldas para a filha que chegava ao mundo. Aos 19, cansada da dor, decidiu mudar seu destino. Passou a vender o que aparecia, produtos de catálogo, roupas, frutas, qualquer coisa que garantisse o sustento da filha. Voltou para a casa dos pais, onde todos lutavam juntos pela sobrevivência. A mãe, com humildade e coragem, vendia chup-chup, lavava roupas, fazia o impossível com o pouco que tinha.

Fênix seguia o mesmo caminho, vendendo roupas e conquistando, com cada venda, um pouco de dignidade e esperança. Em 2001, acreditou que a vida lhe daria uma nova chance. Conheceu um homem que parecia diferente: trazia flores, sorrisos, convites para jantar e promessas de amor. Mas, com o tempo, o encanto se quebrou. Por trás das aparências, havia controle, mentiras e agressões. Em dois anos de relacionamento, viveu humilhações, difamações e violências físicas e psicológicas. Mesmo grávida, nem o nascimento do filho foi poupado da dor, durante o resguardo, as agressões continuaram.

Tentou reagir, resistir, se defender. Mas o ciclo se repetia. Após cada explosão de violência, vinham as desculpas, as flores, a falsa esperança de mudança. Até que um dia, exausta, decidiu romper. Ele não aceitou. Passou a persegui-la, ameaçá-la, controlá-la. 

 

Chegou a tomar seu celular, mordeu sua mão, e o medo passou a fazer parte de seus dias.O limite veio em um dia que deveria ser bonito. Fênix se arrumou para ir à igreja. Escolheu com carinho um vestido que a fazia se sentir bonita, viva, mulher. Colocou uma maquiagem leve e sorriu diante do espelho, era como se, naquele instante, acreditasse novamente na vida. Enquanto esperava o ônibus, o ex-companheiro apareceu de carro, parou e, com crueldade, jogou barro em seu rosto e corpo. Aos 25 anos, Fênix voltou para casa em lágrimas, envergonhada e ferida. Foi a mãe quem a ergueu, com palavras simples e poderosas: “tome um banho e vá à igreja”.

E ela foi. Lavou o corpo, secou o rosto e, entre lágrimas e orações, encontrou um fio de força. Na fé, começou a se reconstruir. Vieram os atendimentos psicológicos, os cuidados médicos, as medicações, um longo e doloroso caminho de cura. Decidiu se afastar de relacionamentos e se reconectar consigo mesma.

Com o tempo, conheceu um homem diferente, que lhe mostrou o que é respeito e carinho. Também reencontrou uma amiga de infância, com quem brincava nas ruas simples de Ibirité. Agora adulta e psicóloga, essa amiga a convidou para conhecer a ONG Elos de Amor. Foi ali que Fênix descobriu um novo propósito: transformar a própria dor em acolhimento. Tornou-se voluntária, ajudando outras mulheres a quebrar o silêncio e recomeçar.

Hoje, Fênix é psicóloga. De vendedora de rua a profissional da saúde mental, ela renasceu das cinzas, e até do barro que um dia lhe foi lançado. Sua história é um grito de resistência, fé e vitória.

Fênix não apenas sobreviveu. Ela ressurgiu. Carrega no olhar a força de quem enfrentou o impossível e, mesmo assim, escolheu o amor, o amor-próprio, o amor pela vida, o amor por outras mulheres. Ela é prova viva de que sempre é possível recomeçar.

Raquel, 2010

Dentro de uma pequena caixa, Raquel guarda todos os boletins de ocorrência que marcaram o período mais doloroso de sua vida. Em 2010, separada, grávida do quinto filho e mãe de quatro crianças, ela enfrentava sozinha as consequências de um relacionamento repleto de violência. O marido, ausente e agressivo, nunca esteve verdadeiramente presente, nem no cuidado com a família, nem no sustento do lar. Ainda assim, Raquel não se deixou vencer.

Com coragem, buscou ajuda e encontrou na ONG Elos de Amor o acolhimento e o apoio que precisavam para dar um novo rumo à sua história. Foi nas oficinas e nas rodas de conversa que redescobriu a própria força e aprendeu a transformar a dor em combustível para recomeçar.

Com trabalho e determinação, reconstruiu sua vida. Tornou-se manicure e cabeleireira, criou os filhos com dignidade, conquistou sua casa própria e, anos depois, encontrou um novo amor, um parceiro que respeita, apoia e caminha ao seu lado.

Hoje, Raquel olha para o passado sem rancor. Enxerga com compaixão não apenas a mulher que foi, mas também o homem que escolheu não participar das vitórias dos filhos e se escondeu das responsabilidades.

Raquel é a prova viva de que a violência não define uma mulher. Com apoio, coragem e oportunidade, é possível transformar a dor em superação, e a superação em vitória.

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Maria, 2019

Em 2019, Maria cruzou o portão da ONG Elos de Amor por um motivo trivial: um simples procedimento no cabelo. Mal sabia ela que aquele encontro casual se tornaria o divisor de águas de sua vida. Acolhida calorosamente pela equipe, o que era uma visita rápida transformou-se em compromisso, e Maria se integrou como voluntária.

A ironia da situação era dolorosa: ela conseguia identificar facilmente a violência na vida de outras mulheres, mas estava cega para o controle disfarçado de amor em seu próprio lar. Seu relacionamento parecia um conto de fadas, cheio de presentes e atenção que ela jamais havia recebido. Contudo, essa "afeição" vinha com um alto preço: restrições sutis, mas implacáveis. Ele ditava com quem ela falava, o que vestia e monitorava constantemente seu celular. Para Maria, tudo isso era sinal de cuidado, nunca de controle.

O relacionamento avançou, e apesar das tensões e brigas, veio a gravidez, rapidamente seguida pelo casamento. Afinal, a pressão social era forte: uma mulher grávida "precisava" de um marido. O casamento, porém, desmascarou um ciclo de violência ainda mais cruel. A liberdade evaporou. Sair com amigas, tomar um sorvete, ter um momento de respiro fora da rotina imposta era proibido. A exigência era clara: "Mulher de verdade faz almoço ao meio-dia e jantar às sete da noite." Todas as responsabilidades recaíam sobre ela: casa, sustento do filho e despesas.

Mas Maria era uma força imparável. Ela resistiu. Trabalhou incansavelmente, dedicou-se aos estudos e, contra todas as adversidades, conquistou uma bolsa integral em uma faculdade de prestígio. Mesmo com as discussões se tornando mais intensas, ela se formou, fez duas pós-graduações e continua em formação constante, alcançando espaços profissionais antes considerados inatingíveis.

Seu sucesso, contudo, foi um combustível para o conflito. O narcisismo do companheiro não tolerava ver uma mulher prosperar, sustentar a casa, estudar e vencer. Cada conquista de Maria era seguida por uma tentativa de diminuição e desvalorização. Apesar de tudo, Maria encontrou sua liberdade. Ela reaprendeu a encontrar suas amigas, a ocupar espaços de decisão e, finalmente, a levantar sua voz contra o machismo e a violência. Ela passou a participar de debates, promover rodas de conversa e, com sua história, a inspirar e fortalecer inúmeras outras mulheres.

Foram mais de 20 anos de luta, de silêncios quebrados e enfrentamentos corajosos. Maria é uma vitoriosa, mas sabe que a batalha pelo respeito, pela valorização e pela dignidade é diária.

Hoje, Maria é uma inspiração viva. Sua voz poderosa ecoa para que outras mulheres encontrem a força psicológica e as condições financeiras necessárias para se libertarem de seus agressores.

 

Maria lembra, com firmeza e esperança: "Nós só queremos respeito. Queremos que nossas decisões sejam compreendidas. E, acima de tudo, queremos ser livres."

Maria, das muitas que somos, 2019

Maria chegou à ONG Elos de Amor em 2019 apenas com a intenção de cuidar do cabelo. Não imaginava que aquele simples gesto se transformaria em um marco em sua vida. Foi recebida com carinho, acolhida pela equipe e, aos poucos, passou de visitante a voluntária dedicada.

Ajudar outras mulheres a reconhecerem a violência parecia algo natural, mas perceber a própria dor era outra história. Maria acreditava viver um amor verdadeiro, repleto de presentes, atenções e gestos que, para ela, significavam cuidado. Porém, junto com o afeto vieram as restrições: com quem podia falar, como devia se vestir e até as verificações constantes em seu celular. Tudo isso era visto como zelo, nunca como controle.

Com o tempo, vieram as discussões, a gravidez e, logo em seguida, o casamento, uma decisão movida pelo medo do julgamento social. “Uma mulher grávida sem marido?”, pensava. Mas, depois do casamento, o que parecia ser amor revelou-se um ciclo de opressão. Maria já não podia sair com amigas, passear, nem respirar fora da rotina que lhe foi imposta. “Mulher de verdade faz o almoço ao meio-dia e o jantar às sete”, repetia ele. Enquanto isso, ela acumulava o peso de sustentar a casa, criar o filho e administrar todas as responsabilidades sozinha.

Mesmo assim, Maria não se rendeu. Trabalhou, estudou e, com muito esforço, conquistou uma bolsa integral em uma universidade renomada. Formou-se, fez duas pós-graduações e continuou crescendo, mesmo enfrentando as crises provocadas pelo parceiro, que não suportava ver sua força e independência florescerem. Cada conquista dela parecia ferir o ego dele, que tentava diminuí-la a cada vitória.

Mas Maria se libertou. Reconstruiu sua autonomia, reencontrou as amigas, retomou seus espaços e levantou a voz contra o machismo. Tornou-se presença ativa em debates sobre violência doméstica, liderou rodas de conversa e passou a inspirar outras mulheres a reconhecerem seu próprio valor.

Foram mais de vinte anos de luta, silêncios e recomeços. Maria venceu muito e sabe que a luta pelo respeito e pela dignidade ainda é diária.

Hoje, ela é símbolo de resistência e esperança. Sua história ecoa para que outras mulheres encontrem coragem, força e apoio para romper o ciclo da violência. E suas palavras continuam a inspirar:

“Tudo o que queremos é respeito. Queremos que nossas escolhas sejam compreendidas. E, acima de tudo, queremos ser livres.”

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Sabrina, 2021

Em 2021, Sabrina chegou à ONG Elos de Amor acompanhada por seu irmão, que já era voluntário da instituição. Era uma mulher de aparência serena e olhar doce, conhecida por sua sensibilidade e dedicação ao trabalho em um museu, um ambiente que refletia seu amor pela arte e pela cultura. Mas, por trás dessa aparência tranquila, escondia-se uma trajetória profundamente marcada pela dor.

Em casa, Sabrina enfrentava um relacionamento violento, dominado pelo ciúme e pelo controle do companheiro. As agressões eram frequentes e cruéis: teve dentes quebrados, os cabelos cortados à força e precisou ser socorrida inúmeras vezes. Foram 42 atendimentos no Hospital João XXIII, cada um deixando feridas visíveis e outras invisíveis, gravadas em sua alma.

Mesmo ferida, Sabrina tentava recomeçar. Encontrou na ONG um abrigo seguro, um espaço onde pôde ser acolhida e também ajudar outras mulheres, tornando-se voluntária. Porém, um novo episódio de violência quase lhe tirou a vida, uma agressão tão severa que a levou a uma parada respiratória. Ela sobreviveu, mas as sequelas foram profundas e mudaram para sempre seu destino.

Como consequência do trauma, Sabrina perdeu a memória das violências e do homem que as causou. Hoje, vive sob os cuidados do irmão, que se tornou seu guardião e apoio constante nessa nova fase da vida.

Embora a justiça ainda não tenha responsabilizado o agressor, Sabrina encontrou um novo sentido para existir. Livre das lembranças que tanto a feriram, segue cercada pelo amor da família e pelo amparo da ONG Elos de Amor. Sua trajetória é um testemunho de força, acolhimento e esperança, um lembrete urgente de que a luta contra a violência doméstica precisa continuar, para que nenhuma mulher sofra o que ela sofreu.

Joana, 2023

Em 2023, durante uma ação voltada ao empoderamento feminino, Joana foi escolhida para receber um tratamento de beleza gratuito em um momento em que enfrentava grandes dificuldades pessoais. Ao chegar para cuidar dos cabelos e das unhas, ela começou a contar sua história: vivia um casamento abusivo, era mãe de filhos autistas e passava por um processo doloroso de separação.

Naquele ambiente acolhedor, Joana encontrou algo que há muito tempo não sentia — escuta, carinho e segurança. A equipe da ONG ofereceu não apenas cuidados estéticos, mas também um espaço de apoio emocional. A experiência foi um divisor de águas em sua vida.

Desde então, Joana permaneceu próxima da instituição, participando de atividades e atuando como voluntária em diversas ações. Sempre relembra com gratidão o dia em que foi acolhida, reconhecendo que aquele gesto de cuidado foi o início de uma nova fase, marcada por força, esperança e vontade de recomeçar.

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Vivian, 2025

Vivian tinha apenas 23 anos quando se envolveu em um relacionamento homoafetivo marcado por violência e sofrimento. Sua companheira, de 38 anos, sonhava em ser mãe, mas não queria engravidar. Movida pelo amor e pelo desejo de construir uma família, Vivian aceitou gerar a filha do casal. Assim nasceu Maria Cecília, a menina que se tornaria a razão da sua força e o sentido da sua vida.

Durante a gravidez, começaram as agressões físicas e psicológicas. Vivian acreditava que, com o nascimento da filha, o comportamento da companheira mudaria. Por um breve período após o parto, viveram uma aparente tranquilidade, mas logo a violência retornou, ainda mais cruel. Entre pedidos de perdão e promessas de mudança, Vivian permanecia no relacionamento, presa pela dependência emocional, enquanto a pequena Maria Cecília crescia presenciando cenas de agressão.

O abuso se agravava com o consumo de álcool, e as situações se tornaram cada vez mais perigosas. Vivian foi ameaçada com faca, enforcada com um cabo de celular e sofreu agressões que colocaram em risco sua vida e a da filha. O último episódio foi tão violento que ela encontrou coragem para buscar ajuda.

Ao procurar a ONG, Vivian foi acolhida com empatia e respeito. Recebeu apoio psicológico, participou de cursos e descobriu novos caminhos para recomeçar. Hoje trabalha como trancista, construindo uma vida independente e digna ao lado da filha. Maria Cecília, prestes a completar quatro anos, ainda tem contato esporádico com a outra mãe, mas é Vivian quem representa, em todos os sentidos, o papel de mãe e protetora.

Apesar dos traumas que carrega, Vivian segue firme. Escolheu não se envolver em novos relacionamentos e dedica-se inteiramente à filha e à própria cura emocional. Vive um dia de cada vez, com serenidade e esperança, transformando a dor do passado em força para seguir em frente.

Vivian, Joana, Sabrina… e tantas outras mulheres que encontraram força e acolhimento para recomeçar

Muitas pessoas, ao chegarem pela primeira vez à ONG, preferem guardar suas histórias em silêncio, movidas pela insegurança ou pelo medo de se expor. Com o tempo, ao sentirem o acolhimento genuíno e o ambiente de confiança que encontram ali, começam a retornar e, pouco a pouco, se abrem para compartilhar suas experiências.

Esse gesto de confiança marca o início de um processo de transformação, permitindo que recebam o apoio e as orientações que a ONG oferece. A partir dessa vivência, algumas pessoas escolhem seguir como voluntárias, retribuindo o cuidado que receberam, enquanto outras continuam participando das atividades e serviços disponíveis. Assim, a instituição fortalece sua rede de afeto, solidariedade e mudança de vidas.

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